quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Monumento

Os imóveis do Convento e da Igreja da Madre de Deus nos dias de hoje

Após ter abrigado a Alfândega e ter passado para a administração da Santa Casa de Misericórdia do Recife, o edifício do antigo convento passou um grande período praticamente abandonado, funcionando como armazém e estacionamento. No ano de 2011, o Ministério da Cultura, através do Programa Monumenta, juntamente com a iniciativa privada, recuperou o prédio, no qual passou a funcionar um moderno shopping center. A intervenção  arquitetônica realizada para instalação do shopping, por se tratar o imóvel de um importante monumento,foi executada de forma a permitir uma bela visualização de antigas paredes construídas em épocas distintas, tanto para abrigo das atividades religiosas quanto alfandegárias.

A Igreja da Madre de Deus é, hoje, uma referência na cidade. As obras realizadas no período de 2005-2006, dotaram a igreja da infraestrutura e do conforto necessários à realização das cerimônias religiosas, atividades de educação patrimonial e atividades culturais como apresentações de concertos, corais e espetáculos de luz e som.

A Congregação do Oratório no mundo

No Brasil, com a extinção da Congregação em Pernambuco, não houve padres oratorianos durante mais de 120 anos até que, em 1957, chegou à cidade de São Paulo, o padre italiano Aldo Giuseppe Maschi, para fundar a Paróquia de São Felipe Néri, que é, hoje, a única Casa da Congregação do Oratório no país. Atualmente, os oratorianos estão presentes na Itália, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suíça, Polônia, Estados Unidos, Canadá, México, Colômbia, Costa Rica,Chile e Brasil.

Igreja da Madre de Deus - Monumento Tombado

O edifício da Igreja da Madre de Deus sofreu pequenas e grandes modificações desde a sua construção. Uma das mais significativas foi a construção da segunda torre sineira em 1931.

Em 1938, a igreja foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tendo sofrido, porém, em1971, um incêndio que destruiu grande parte da capela-mor. Obras de restauração realizadas pelo IPHAN na década de1980 recuperaram boa parte dos elementos destruídos pelo fogo.

A Igreja da Madre de Deus, as imagens de santos e as irmandades

O edifício do Convento, quando a Alfândega deixou de nele funcionar, foi entregue à Santa Casa de Misericórdia do Recife e a Igreja da Madre de Deus passou, em 1835, aos cuidados da Irmandade de Santana. Além dela, a Igreja acolheu várias irmandades e imagens em consequência da demolição de algumas capelas e templos do Recife.

A exemplo disso, quando o Arco do Bom Jesus foi demolido, em 1850, a irmandade e a imagem do Senhor Bom Jesus das Portas foram transferidas para a Igreja da Madre de Deus. O Arco do Bom Jesus, era um dos três antigos portais da cidade e localizava-se no final da atual Rua do Bom Jesus.

Um outro exemplo está relacionado à Igreja do Corpo Santo, a primeira do Recife, dedicada a São Frei Pedro Gonçalves. Quando ocorreu a grande reforma da malha urbana do Bairro do Recife no início do século XX, a Igreja do Corpo Santo foi demolida. A irmandade e a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos e todas as outras imagens pertencentes àquele templo foram transferidas para a Igreja da Madre de Deus.

Da Igreja do Corpo Santo saía a mais famosa e antiga procissão do Recife - a Procissão dos Passos - realizada pela primeira vez em 1654, como pagamento de uma promessa que os comandantes militares portugueses e brasileiros haviam feito caso vencessem os holandeses. A Procissão dos Passos também foi transferida para a Igreja da Madre de Deus que ainda é, atualmente, seu ponto de partida na época da Quaresma.

O tempo da Alfândega

Com o acelerado desenvolvimento das movimentações no porto do Recife na primeira metade do século XIX, surgiu a necessidade de construir uma nova alfândega para controle das mercadorias.

Como restavam poucos padres na congregação e o Convento da Madre de Deus era uma edificação imponente e grandiosa, o governador de Pernambuco, na época, Mayrink Ferrão, sugeriu ao Imperador D. Pedro I, que a Alfândega do Recife passasse a funcionar nas instalações do convento oratoriano.

Dessa forma, apesar dos protestos da Congregação, o antigo convento passou a abrigar as atividades alfandegárias do porto e, em 1826, os oratorianos retiraram-se do edifício. Com a desvinculação dos usos dos dois prédios,foi aberta, já durante o Governo do Conde da Boa Vista, uma rua entre a igreja e o convento, separando definitivamente os dois imóveis.

No ano de 1830, o imperador decretou uma lei, extinguindo oficialmente a Congregação do Oratório de Pernambuco, 168 anos após o padre Sacramento e o padre João Victória haverem lançado a semente da Congregação em terras brasileiras.

Pernambuco e as Revoluções Libertárias

Em 1817, aconteceu a Revolução Pernambucana, que consistiu numa tentativa de tornar o Brasil independente de Portugal. Entre os líderes dessa revolução, estava o padre oratoriano João Ribeiro. Os revoltosos não alcançaram de imediato seu objetivo, mas fomentaram o sentimento de nacionalidade de tal forma que,em 1822, passados apenas cinco anos, D. Pedro I proclamou a independência do Brasil.

Mesmo com a independência, grande parte da população não estava satisfeita com o governo. Dessa forma, no ano de 1824, ocorreu outra revolução em Pernambuco - a Confederação do Equador. A intenção era de que o território que abrange da Bahia até o Pará se tornasse independente do restante do Brasil. Esse novo "país" iria se chamar de Confederação do Equador. O Imperador, que desejava por fim ao levante,enviou para Pernambuco o 1o Batalhão da Corte,ficando este alojado no Convento e na Igreja da Madre de Deus,pois,na época, já era pequeno o número de padres que lá residiam.

A dedicação ao ensino no Convento da Madre de Deus

Após a reforma, o convento tomou proporções majestosas. Nele, os oratorianos ministravam aulas para os próprios padres da congregação e para alunos externos. Eram conhecidos e respeitados pela qualidade do ensino, tanto secundário quanto superior, envolvendo Teologia,Filosofia, Artes e Humanidades. Em 15 de março de 1775, o Rei decretou que os alunos do Convento da Madre de Deus poderiam ingressar na Universidade de Coimbra, em Portugal, sem prestar exames de admissão. O Convento da Madre de Deus abrigava, nessa época, a melhor biblioteca de Pernambuco, com mais de 4.000 livros.

Em 1810,os padres do Oratório já se dedicavam quase que exclusivamente ao ensino, pois, já não havia o mesmo número de índios a serem catequizados e as atividades missionárias ficaram mais escassas. Nessa época, eram realizados no Convento da Madre de Deus, concorridos debates públicos sobre Teologia, Direito Canônico e outros temas.

Por serem admirados e respeitados pela população recifense, os oratorianos receberam várias doações de casa,sobrados e terrenos, chegando a acumular grande fortuna e prestígio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Recife: de povoado a Vila

No ano de 1710, o governador da Capitania de Pernambuco, Sebastião de Castro e Caldas, com o apoio do Rei de Portugal, iniciou um movimento para que o Recife fosse elevado à categoria de vila. Os políticos olindenses, insatisfeitos, além de perseguir e ameaçar o governador que, por sua vez, se viu obrigado a fugir para a Bahia, não reconheceram o documento real que consagrava o Recife como vila. Os comerciantes instalados no Recife deram início a uma luta contra a nobreza olindense e esta, em represália, montou um cerco ao redor do Recife, impedindo a circulação de pessoas, alimentos e remédios.

Esse cerco durou cerca de quatro meses e a população recifense enfrentou grandes problemas. A luta entre Olinda e Recife ficou conhecida como a Guerra dos Mascates.

Nesse contexto, os padres oratorianos assumiram um importante papel,posicionando-se ao lado dos mascates e lutando contra a escassez de comida e medicamentos.

Diante desse momento crítico, a Coroa Portuguesa enviou para Pernambuco um novo governador, Félix Machado, que apoiou os recifenses e pôs fim à guerra, sendo o Recife, finalmente elevado à categoria de vila.

Após a Guerra dos Mascates, os oratorianos alcançaram um prestígio ainda maior perante os recifenses, devido à sua atuação em defesa do recife. Consequentemente, a Congregação do Oratório se desenvolveu ainda mais.

Com a ajuda real e da gente da terra, em 1754 foram feitas obras de ampliação no Convento da madre de Deus, difinitivando o conjunto de prédios que por tanto tempo integraria a paisagem do Recife.

A nova Igreja da Madre de Deus

Com o passar dos anos e o aumento do número de fiéis que frequentavam a igreja,surge a necessidade de construir um templo maior e mais adequado. Dessa forma, em 1706, foi lançada a primeira pedra da atual Igreja da Madre de Deus. Contudo, somente em 1715 ficou pronta a primeira metade da igreja. Na quinta-feira santa de 9 de abril daquele ano foi realizada a primeira missa no novo templo.

A epidemia de febre amarela assola o Recife

Instalados no Recife,os oratorianos enfrentam vários desafios, sendo um dos primeiros, a epidemia de febre amarela que assolou o povoado em1685. Os padres desempenharam um papel importante, tratando dos enfermos, ouvindo as confissões dos moribundos e sepultando os corpos que eram deixados pela população carente na frente do Convento da Madre de Deus. Em 1686, em consequência da epidemia, faleceu o Padre Sacramento, sendo enterrado na Igreja da Madre de Deus.

A transferência da Congregação do Oratório de São Felipe Néri de Olinda para o Recife e a fundação do Convento e da Igreja da Madre de Deus

Embora a Vila de Olinda,onde a Congregação estava instalada, fosse a sede da Capitania de Pernambuco, o povoado do Recife havia prosperado significativamente durante o período do Governo Holandês e seu movimento portuário e comercial intensificava-se cada vez mais. Dessa forma, nasceu nos oratorianos o desejo de transferir-se para o Recife e lá construir um anova igreja e um novo convento para instalarem-se e desenvolverem suas atividades religiosas.

Nesse época só havia uma igreja na península recifense - a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, também conhecida como Igreja do Corpo Santo - a primeira do recife, demolida em 1913 devido às reformas urbanas do início do Século XX.

Os nobres olindenses,por não apoiarem i desenvolvimento do Recife, impuseram algumas restrições em relação à transferência dos oratorianos para o povoado. Entre elas, exigiram que no convento a ser construído, só poderiam residir, no máximo, doze padres, e a futura igreja não deveria ser aberta ao público, sendo, portanto, restrita ao uso dos próprios congregados.

Sendo inicialmente aceitas as condições,os oratorianos ainda necessitavam de um terreno para iniciar a construção das instalações. Um contratante de obras chamado Antônio Fernandes de Matos, rico empreendedor português, doou aos padres uma parte de um terreno que ele havia aterrado do lado oeste da península do Recife.

Provavelmente entre 1679 e 1680, teve início a construção, com a ajuda do próprio Antônio Fernandes de Matos, da igreja e do convento da Congregação no Recife. O primitivo convento era uma obra modesta de taipa. A igreja anexa tinha capela-mor e dois altares laterais e era forrada de esteira. A igreja, apesar de não possuir acesso para a rua, tendo apenas uma porta voltada para o convento, passou a ocupar um lugar importante no "no coração do Recife" em plena freguesia de São Pedro Gonçalves, dividindo esse privilégio apenas com a matriz do Corpo Santo.

Por serem os padres oratorianos muito respeitados pela família real de Portugal, o padre Sacramento, fundador da Congregação em Pernambuco, escreveu uma carta ao príncipe solicitando autorização para que a igreja passasse a ser aberta ao público. O príncipe D.Pedro II de Portugal, além de conceder a permissão, se tornou protetor da igreja e do convento. Estavam fundados o Convento e a Igreja da Madre de Deus.

Essas edificações originais da igreja e do convento que, hoje já não existem, em nada fariam lembrar, por sua simplicidade, o atual e suntuoso edifício da Igreja da Madre de Deus, construído posteriormente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A fundação da Congregação do Oratório de São Felipe Néri de Pernambuco

O padre Sacramento e o padre Bartolomeu de Quental desejavam fundar, em Pernambuco e Portugal, respectivamente, duas congregações do tipo oratoriano. Dessa forma, em 1671, o padre João Victória foi enviado a Roma para solicitar a autorização do Papa.O Sumo Pontífice sugeriu a criação de uma congregação semelhante à de São Felipe Néri, originária da Itália. A sugestão foi aceita, passando a existir, a partir desse momento, a Congregação do Oratório de São Felipe Néri de Portugal e a Congregação do Oratório de São Felipe Néri de Pernambuco. Os padres que faziam parte dessas congregações eram conhecidos como oratorianos.

A chegada à Pernambuco e o início das missões

Ao chegarem a Pernambuco, no ano de 1660, os dois padres estabeleceram-se no Cabo de Santo Agostinho, ao sul do Recife e, de lá, partiram em viagens missionárias para Alagoas,chegando às regiões lindeiras ao Rio São Francisco, seguindo, posteriormente, para o Rio Grande do Norte e o Ceará.

Ao retornarem a Pernambuco, em 1662, o Padre Sacramento e o Padre João Victória instalaram-se na Ermida de Santo Amaro, localizada numa área que corresponde, hoje, ao bairro de Ouro Preto, em Olinda, à época, sede da Capitania de Pernambuco.Atualmente,no local, existem algumas ruínas da antiga ermida, um pequeno santuário e um obelisco em homenagem à chegada daqueles padres.

Uma vez munidos de um ponto de apoio e tendo conquistado alguns seguidores para colaborar com as atividades religiosas, retomaram as viagens, partindo para o interior de Pernambuco e passando a organizar três importantes missões - a de Ipojuca, a de Limoeiro e a de Ararobá. As duas primeiras, iniciadas em 1662, localizavam-senas regiões dos atuais municípios de mesmo nome e a última, iniciada em 1670, situava-se nas proximidades da atual cidade de Pesqueira.

Essas missões deram origem ou contribuíram para o desenvolvimento de muitos povoados e municípios pernambucanos, como o município de Escada (na missão de Ipojuca), o de Limoeiro (na missão de mesmo nome) e a Vila de Cimbres (na missão de Ararobá), além dos municípios de Brejo da Madre de Deus e Taquaritinga do Norte. Mais tarde, em 1707, os oratorianos assumiram a última de suas quatro mais importantes missões - a missão de Aratangui, na Paraíba, na região, onde, hoje, localiza-se o distrito de Alhandra.

O contexto histórico

A Igreja da Madre de Deus foi fundada pelos religiosos da Congregação do Oratório de São Felipe Néri. Essa Congregação nasceu na Itália, no século XVI e se expandiu pela Europa,alcançando, entre outros países, Espanha e Portugal.

Com a colonização do Brasil pelos portugueses, várias Ordens religiosas desembarcaram em terras brasileiras tendo como principais objetivos a catequização dos povos nativos e a manutenção da fé católica dos colonizadores portugueses.

Como entre 1630 e 1654 algumas capitanias brasileiras, em especial, a de Pernambuco, estiveram sob o domínio protestante holandês, ao final desse período, a sociedade portuguesa sentiu a necessidade de reforçar a crença católica na colônia.

Nessa época e nesse contexto,o padre Bartolomeu de Quental,que gozava de muito prestígio perante a Família Real portuguesa, ciente dessa necessidade, enviou a Pernambuco dois religiosos de sua confiança - o Padre João Duarte do Sacramento e o Padre João Victória.